Tudo acontecia lá no canto do quintal.
Encontra-se o pano de chão novinho e
branquinho estendido no varal, quando de repente chega a vassoura, o pano todo
esnobe começa a criticar a pobre da vassoura que pelos não tinha tantos, restava-lhe
apenas alguns fiapos todos embolados.
O pano de chão olhou do alto do varal e
disse desdenhando:
- Oi sua vassoura descabelada, está me
ouvindo?
- Não precisa gritar- respondeu encostada
triste num canto. Posso ser velha, mas não sou surda, completou a vassoura.
- Achei que não ouvisse, está tão acabada
que até dói em olhar. E cansa a minha
beleza. Completou o pano.
- Eu também já fui linda, alegre e faceira,
adorava dançar enquanto varria a calçada. De tanto me usarem fiquei velha,
agora sou jogada aqui no canto, ando cansada. Mas amanhã você também vai ficar
velho encardido e esfarrapado, não terão dó e será jogado no lixo.
O pano suspirou – Só porque está velha e
feia a inveja está te corroendo ao me ver
assim todo faceiro branquinho e feliz.
- Oras! Deixe-me descansar, logo estarei
rebolando pela casa com um pano de chão enrolado em meus pelos e com certeza
vai ser você seu pano de chão esnobe, disse a vassoura irritada com aquela
arrogância do pano metido a besta.
O pano não teve tempo de argumentar logo
chega uma velha gorda para fazer à limpeza da casa e pega a vassoura, enrola o
pano, enfia na água com sabão e detergente
colocados em um balde e segue para sua limpeza, é um esfrega, esfrega torce, torce, que o pano estava tonto, a
vassoura ofegante só suspirava.
Depois de tanto rodar e rodar, a limpeza
chega ao fim, o pano de tão branquinho perdeu a cor, no varal foi jogado de
qualquer jeito. A vassoura largada no canto sem ao menos imaginar que ela
também estava cansada.
Enquanto a vassoura cochilava de tão
cansada o pano derramava suas lágrimas.
- Você ainda está vivo? Perguntou a
vassoura ao pano que continuava derramando suas lágrimas.
- Estou envergonhado. Quanto dói a maldade
dos humanos, eu aqui todo lindo e de repente me sinto um trapo encardido com
esse cheiro horrível de sujeira. Nem ao menos um banho decente.
- Pois é!
Eu também já fui muito bela apaixonada por um rodo que foi jogado no
lixo, hoje estou velha desdentada, uma
coisa eu aprendi, de tanto varrer e varrer, esfregar e esfregar, conheci
histórias, descobri segredos, já fui até cavalinho para as crianças brincarem.
Valeu a pena ter vivido tanto, ter trabalhado até cansar e mesmo tendo
de acabar assim apenas um toco de vassoura que logo não terei mais serventia e serei
descartada no lixão, vou relembrar de
momentos bons e ruins.
O pano de chão ficou envergonhado de ter
esnobado tanto aquela pobre vassoura,
começou a soluçar enquanto banhos de lágrimas caiam sobre a vassoura jogada no
chão.
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