segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

JUCA





Um menino que morava numa vila de uma cidadezinha do interior, era um menino muito pobre com os sonhos maiores que a Lua quando surgia radiante na imensidão que avistava ali do alto do morro. Juca nunca frequentou uma escola mas aprendia a ler com a filha de uma vizinha, no caminho de volta pegava todos os papeis que encontrava levava para casa e ficava gaguejando as letrinhas e rabiscando da sua maneira torta. O tempo passava o menino crescia e seus sonhos cresciam muito mais.
Uma manhã acordou e foi falar com a sua mãe que recebeu o convite de uma fada que lhe dizia:
-Logo irá acontecer algo muito bom no seu pequeno mundo, você vai sair daqui e ganhar a imensidão como um passarinho em busca dos seus sonhos.
A mãe rindo disse: - Filho hoje é o seu aniversário, pare de ficar imaginando coisas nessa mente sonhadora. Tenho um presente para você, não é novo encontrei quando subia o morro, sei que vai gostar tanto como se fosse o presente mais caro desse mundo.
O menino olhou para a mãe com seus olhinhos brilhando de curiosidade e quando ela lhe entregou um livro todo ilustrado o menino sentiu duas lágrimas brotando dos seus olhinhos, abraçou a mãe estalou um beijo no rosto e correu para seu quarto.
Durante o dia não largou o seu presente, lia e  relia cada página com medo que a historinha chegasse ao fim, ia degustando devagar com os olhos grudados em cada gravura, era como se deliciando com o mais saboroso doces que só via nas vitrines das lojas quando passava na rua com a sua mãe.
Juca não saia mais com os amigos, quase não saia de casa passava seu maior tempo com seu melhor amigo, o livro, com ele viajava em lugares lindos que só em sonhos poderia chegar, falava com os personagens como se pudesse lhe ouvir e entender, as respostas ele mesmo dava da forma que desejava. A noite dormia com o livro embaixo do travesseiro e sonhava que fazia parte daquela história. A imaginação do menino voava tanto que até criava um final diferente para cada uma das dez historinhas do livro,
Imaginava – Como seria se ele fosse um cavalheiro andante em seu cavalo de pelos negros e crinas esvoaçantes? Sairia das páginas do livro cavalgaria pela floresta na captura da linda menina de cabelos de cenoura que estava desaparecida.
O sono foi mais rápido e dominou a mente cansada do menino que dormiu até tarde do dia seguinte.
De tanto ler o livro de trás para frente de frase em frase ele já sabia descrever cada detalhe. Um dia resolveu inventar outra história sem sair do enredo daquela e começava a rabiscar palavras trocava frases, mudava os personagens, o lugar onde tudo acontecia, a história estava do jeito que sonhava. Tudo acontecia ali na vila, claro que ele era o personagem principal e a menina que tão carinhosamente lhe ensinava  a ler e escrever, ela seria a heroína da sua nova história.
E continuava Juca, sentava no alto do morro deixando a imaginação voar, observando aquele cenário com os olhos de um menino sonhador. Sempre que escrevia uma página do caderninho que a menina havia lhe presenteado, ele se perguntava:- tem tantas pessoas que quero colocar na minha história, como vai caber tanta gente e ainda os animais apenas numa historinha?
Juca não desistia e outros personagens iam surgindo na história  do menino sonhador.- Tenho que mudar os nomes, ora essa nem pensei nisso, que nome darei ao meu cachorro, meu gato e os cachorros da vila que ficam perambulando. E o passarinho que canta todas as tardinhas antes de voltar para seu ninho?
Melhor continuar escrevendo e dando os verdadeiros nomes quem sabe se os sonhos podem responder a tantas perguntas.
O caderninho era o único papel que tinha para escrever a sua história e estava nas últimas folhas já todo amassado de tanto carregar embaixo do braço de casa para o morro onde se sentava para buscar inspiração, o lápis de tanto apontar só tinha um toquinho menor que o seu dedo mindinho.
- Mas como vou continuar a escrever, o papel acabou o lápis não dá mais para segurar... Eu preciso arranjar outro caderninho. Pensou  triste. Dois dias se passaram sem que pudesse escrever, sem solução saiu pegando papel amassado  que era jogado fora na lojinha da vila.
Durante dias ficou relendo o que estava escrito, retocava algumas palavras, mudava outras um substantivo por um adjetivo sem mesmo saber o significado. Quando  o lápis chegou ao finalzinho ele chorou deixando que algumas lágrimas borrassem as palavras. Iria pedir a menina quem sabe ela teria alguns pedacinhos que não usava mais, a noite cheio de alegria foi até a casa no final da vila, assim que ela abriu a porta ele falou do que estava escrevendo mas infelizmente não tinha papel e nem lápis para continuar escrevendo. A menina sentindo-se penalizada e por gostar muito daquele menino foi até seu quarto e voltou com um saquinho entregando-lhe.
O menino nem ao menos olhou o que havia ali dentro, voltou saltitante pisando nos calcanhares, nem esperou entrar em casa sentou-se num tronco que servia de cadeira ao lado da porta, abriu o saquinho seus olhos faiscavam como vaga-lumes, ali tinha um caderno novinho, lápis, borracha, canetas, cuidou de retocar as letras apagadas, empolgado passava de página a  página, lia relia até que o  sol descia  por detrás dos tufos de plantas deixando a tarefa para a noite que começava a escurecer.
Os dias seguiam, os amigos cobravam a sua ausência no campinho onde jogavam bola, Juca não pegava mais nem as suas bolinhas de gude nem seus carrinhos de lata que ele mesmo fazia usando materiais encontrados no lixo. Ele só queria ficar sozinho para continuar rescrevendo  aquela historinha
Um dia Juca saiu e quando voltou a tardinha não encontrou p seu caderninho no lugar secreto onde guardava

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS PIPAS